Parem as Máquinas!
O Planeta Marrom parou definitivamente as máquinas. Pra quem não sabe, o Planeta era um de meus sites preferidos, um jornal que possui os melhores jornalistas, tem os melhores artigos e, como todo jornal que eu goste, tem uma excelente seção de quadrinhos, com tiras muito boas e tinha ótimos furos jornalísticos (eram uma HQs que, agora que fui averiguar, não encontrei mais o link no site, mas ainda é possível ler algumas no inativo CyberComix, procurando por Hqs de Sílvio Ajr, criador do Planeta Marrom [bem, aqui em casa eu não abri, mas ainda deve ter algum jeito de acessar elas, sei lá] ). Entre no site e dê uma olhada em tudo porque o Sílvio me disse que o site só vai durar enquanto houver visitas. Eu vou deixar aqui, como amostra grátis, três tiras e dois artigos dos meus jornalistas favoritos:
fim de carreira deixa maradona mucho loco!
O colegial é mesmo uma fase complicada, além de um sorvete econômico: como se não bastasse a acne, a necessidade de adequação social e as humilhantes negativas de namoradas em potencial, ainda nos é exigido, ao fim do terceiro ano, que tenhamos discernimento suficiente para definir nossa futura carreira profissional.
Lembro que fui avaliado pelo conselheiro vocacional da escola, que, após uma série de testes, intuiu que eu seria um bom jornalista - ou médico legista, ou qualquer coisa assim. Ele tinha problemas de dicção, era difícil entendê-lo.
Embora àquela época o cenário jornalístico fosse outro - edgard piccoli era vj do shop tour e joelmir beting ainda não era garoto propaganda do bradesco - achei que jornalismo seria uma boa carreira para mim. Mas antes de preencher a ficha de inscrição pro vestibular, precisava de uma segunda opinião, só pra ter certeza - e isso me deu certeza de que eu era muito inseguro.
Meu pai queria que eu fosse advogado, para seguir os passos de sua família. Já mamãe me queria advogado para processar a família de papai. Certamente o curso de direito seria para mim apenas um upgrade da famigerada pergunta 'de quem você gosta mais?'.
Uma tia sugeriu medicina, mas, levando em conta que a mesma fazia cesta básica na farmácia, achei que ela vislumbrava apenas um futuro provedor de amostras grátis.
Um colega disse que eu poderia ser um bom cantor de rock, afinal era uma carreira que não demandava grande talento (ei, se o dinho ouro preto canta mal até hoje, imagine naquela época), mas a idéia de envelhecer usando camiseta regata me pareceu meio bizarra.
Foi quando me ocorreu que talvez eu não devesse fazer faculdade ou seguir carreira alguma: sim, eu poderia ser um nômade, trabalhando em lanchonetes esquecidas pela vigilância sanitária e viajando de carona pelo mundo atrás de minhas bandas favoritas. Ora, bandas com nome duplo costumam durar pra sempre - e eu estaria na primeira fila, cantando os refrões com meu inglês colegial.
Lá estava eu, entre o jornalismo e a vida cigana. Então, o destino colocou o vestibular no mesmo dia do hollywood rock - e fui forçado a me decidir.
Por anos questionei se tinha feito a escolha certa. Mas só tive mesmo certeza quando o duran duran, o spandau ballet e o crowded house acabaram.
celulares não dão câncer cerebral porque quem os usa não tem cérebro!
nelson neosaldina
O ridículo culto ao celular não é recente: desde o advento dos telefones móveis (que eram exatamente isso - telefones e móveis, quase criados-mudos), a gana por ostentar modelos cada vez menores e mais modernos só aumentou. Ao contrário dos preços, que agora permitem à minha faxineira ignorante ter diversos modelos e se atrapalhar tentando atendê-los cada vez que o microondas apita.
Deveriam haver leis severas limitando o acesso aos telefones celulares. Em primeiro lugar, um limite etário: não se permitiria a compra de celulares antes de determinada idade - eu diria uns 90 anos, quando a audição já não ajuda e esses brinquedinhos dos infernos mostrariam-se inúteis.
Segundo, portadores de celular não poderiam tirar carteira de motorista. Sim, porque esses retardados insistem em falar ao telefone, fumar e buzinar ao mesmo tempo - enquanto fazem aquilo que chamam de dirigir e que o delboni auriemo chama de amostra para exame parasitológico.
Terceiro, celulares com visor colorido e câmeras embutidas seriam exclusivos dos artistas circenses. Bem, na verdade já o são.
E por último, as capinhas de celular deveriam ser feitas de material biodegradável. Assim, deteriorariam em contato com o ar - e os aparelhos acabariam por espatifar-se no chão.
Ora, chamem-me de antiquado, mas sou cada dia mais favorável aos sinais de fumaça - na verdade, seria ideal se todos os telefones celulares soltassem fumaça.
E logo em seguida entrassem em combustão.
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